Como organizar as aulas para que tenhamos a atenção necessária à disciplina em sua versão online? Nós sabemos que esse não é um desafio exclusivo das disciplinas em EAD. Quantos de nós já não nos surpreendemos ao descobrir que, depois da nota da primeira prova, nossos alunos se mostram muito mais participativos? Como transpor os mecanismos que já conhecemos para estimular nossos alunos a se dedicarem mais para as atividades online ou híbridas?
Eestratégias para aumentar as chances de engajamento dos estudantes
Histórias que prendem a atenção
Você se queixa de que os estudantes de hoje já não têm mais a concentração dos estudantes de antigamente? Agora, foco: o seu aluno é capaz de sair da sua aula e, entre sexta e domingo, maratonar os 13 episódios da temporada nova da sua série preferida? Será que ele não tem foco? O que a série tem que suas aulas não têm são histórias envolventes e empolgantes.
Avalie se dá para inserir personagens em suas disciplinas. Incluir os famosos “cases” de sucesso (parece que cases de sucesso, em inglês, têm sempre mais sucesso do que casos de sucesso, em português mesmo). Apresente uma teoria científica nova contando como seu descobridor, antes um iniciante sem reconhecimento nenhum entre os pares, desafiou os maiores nomes de sua época até se fazer ouvir graças a seus experimentos elegantes, suas previsões precisas e sua tenacidade incansável. Conte um caso raro e extravagante sobre um personagem histórico relacionado ao conteúdo da aula. Relacione o conteúdo a uma experiência pessoal na sua carreira. Pessoas amam histórias! Conte uma boa história nas suas aulas e você terá a atenção que deseja.
Outro elemento das histórias que prende a audiência, e que pode ser adaptado às aulas, é o dinamismo. Aulas curtas, com alguma dinâmica no enquadramento da câmera, povoadas por uma sucessão de dados ricos e exemplos precisos e narradas com uma voz bem modulada tendem a prender mais a audiência. Deixe seu aluno curioso para saber o que vem a seguir. Surpreenda-o.
Torne seu aluno responsável
A condição de sujeito é muito mais difícil do que a de objeto de uma ação. É mais fácil ser ensinado do que aprender. No entanto, muitas pessoas se satisfazem em trabalhar duro, em sair da passividade. Se você estimular seu aluno a trabalhar, ele se envolverá mais com a sua aula.
Gosto de usar uma dinâmica chamada equipe analítica para dar responsabilidade aos alunos numa aula expositiva. Antes de começar uma aula, divido minha turma em quatro partes. O primeiro grupo ficará responsável por elaborar um resumo do que foi dito. O segundo, irá parafrasear o ponto principal da aula que apresento logo no primeiro slide. O terceiro, ficará responsável por elaborar um contraponto ao que apresentarei. O último, indicará aplicações práticas do conteúdo. Ao final, eles compartilharão suas produções. Pronto, cada aluno tem um motivo para focar na aula e os colegas criam expectativa sobre o trabalho uns dos outros. Será que é possível fazer essa atividade online? Você pode dividir os alunos em grupos e cada grupo assumirá um papel na dinâmica.
Uma outra forma de fazer isso em aulas não expositivas é a dinâmica de quebra-cabeças. Divido um conteúdo num determinado número de partes – digamos que tenho uma turma de 30 alunos para estudar como os animais vertebrados ocuparam o ambiente terrestre – divido a turma em cinco grupos de seis alunos. Na fase de aprendizagem, um grupo irá estudar como evoluíram as patas, um segundo como a coluna vertebral e as costelas ajudaram a resistir à gravidade, um terceiro estudará como a respiração aquática/branquial tornou-se aérea/pulmonar, o quarto grupo analisará como os rins passaram a lidar com a escassez de água e o quinto estudará a impermeabilização da pele e dos ovos. Então, cada membro do grupo deverá produzir um resumo do que estudou e esse será, rapidamente, apresentado a mim e corrigido. Na fase de compartilhamento, são desmanchados os grupos de estudo e são montados seis grupos de compartilhamento, formados por cinco alunos, com um integrante de cada grupo de estudo. A seguir, cada estudante deverá explicar aos colegas a sua abordagem da adaptação dos vertebrados para a vida sobre a terra. Os alunos aprenderão uns com os outros e, por ficarem responsáveis por ensinar, os estudantes se dedicam muito mais a compreender o conteúdo. Além disso, é perfeitamente possível fazer isso usando salas de reunião virtuais via Zoom ou Teams. De forma assíncrona, você pode usar fóruns de discussão no AVA.
Socialize, nenhum homem é uma ilha
Aulas expositivas tendem a ser solitárias e pobres em interações. Então, uma forma de estimular o interesse é pedir que seus alunos interajam durante as aulas. O Prof. Erik Mazur, de Harvard, tem uma metodologia interessante de trabalhar a interação em suas aulas de eletromagnetismo, inclusive em turmas numerosas, por meio de instruções por pares. Ele faz uma breve exposição do conteúdo e então apresenta um experimento ou desafio baseado na teoria exposta. A partir deste experimento ou desafio, ele apresenta uma pergunta de múltipla escolha e pede que os alunos respondam individualmente e digam para ele a alternativa escolhida (ele usa um dispositivo via radiofrequência chamado clicker, parece um controle remoto desses de portão automático). De posse do resultado, ele pede aos alunos que encontrem um colega na turma que deu uma resposta diferente da deles e discutam até os dois se convencerem de uma resposta em comum, que, então, será informada ao professor novamente. Ele repete o método, eventualmente dando dicas, até que toda a turma convirja para a resposta correta. Já usei o Socrative (conheça a ferramenta aqui) e o MentiMeter (conheça a ferramenta aqui) para transpor essa metodologia às aulas online.
Uma outra dinâmica que eu gosto, que tem a finalidade de colocar os alunos para interagir, é a pense-pareie-partilhe. O professor apresenta uma questão de resposta aberta e, preferencialmente, uma que envolva criatividade. Em seguida, aos alunos que elaborem soluções individuais à questão. Depois, os alunos devem formar duplas e discutir suas soluções até criar uma síntese das propostas. Ao final, todas as duplas compartilham suas soluções com a sala de maneira suscinta. Chats em grupos, fóruns ou ferramentas de videoconferência permitem fazer essa dinâmica online.
Crie um propósito
Um senso de objetivo, percepção clara de progresso e feedback em tempo real são algumas das características dos jogos de videogame. Elas fazem com que aquele seu aluno mais disperso mergulhe por horas a fio num game em seu tempo livre. Não é à toa que muitos educadores têm se voltado para a estratégia da gamificação. Há diversas ferramentas online e plugins do AVA que permitem incluir elementos de jogos eletrônicos à sua disciplina. Há pouco, citamos o Socrative, que permite fazer alguns jogos com os alunos, mas outra opção de ferramenta popular é o Kahoot.
Uma insegurança que me acompanhou por alguns semestres foi a de se meus alunos estavam, de fato, assistindo e prestando atenção às minhas videoaulas. Um jeito que encontrei de medir isso foi incluir um teste com questões objetivas associado a cada aula. A opção mais simples consiste em suceder a videoaula com um teste no AVA, por exemplo. De maneira aprimorada, eu usei, por muito tempo, uma ferramenta chamada Playposit para fazer isso concomitantemente. O Playposit permite que o professor insira perguntas objetivas ou discursivas no meio da sua videoaula. Num dado momento escolhido pelo professor, o vídeo é interrompido, surge uma questão na tela e o vídeo só recomeça depois que o aluno responder.
Essas questões podem ser usadas de muitas maneiras. Elas podem ser, apenas, um feedback de rendimento do aluno, mas podem, também, servir para ser atribuída presença, indicar progresso da turma, pontos de dificuldade ou falhas da videoaula e podem ser até um dos componentes da nota final. Já experimentei diferentes usos e sigo explorando o potencial dessa ferramenta.
E agora, a responsabilidade dos estudantes
Um problema recorrente nas disciplinas a distância é que o estudante não tem claro o que se espera que ele faça. Aprender num ambiente virtual não é uma tarefa trivial, a ponto da PROCAP UnB ter um curso sobre como aprender em cursos à distância. Assim, o estudante precisa ter clareza sobre como se portar frente ao conteúdo online. Isso deve ser incluído no plano de aulas da disciplina e estar disponível também no AVA. Eu gosto de convidar um aluno que teve bom rendimento na disciplina em semestres anteriores para explicar como ele obteve sucesso para a turma que está chegando.
A turma precisa estar ciente de que assistir a uma videoaula é… assistir a uma aula. Você não assiste a uma aula no sofá da sala comendo pipoca ou de pé no metrô. Você se senta, prepara seu material para anotações, se isola de ruídos e interrupções e, então, assiste à sua aula. É claro que cada aluno tem suas estratégias, mas o importante é levar as videoaulas a sério.
Por fim, não seja tão duro consigo mesmo nesses momentos de pandemia. É normal que seus alunos se dispersem às vezes. Na aula presencial, você pode flagrá-los tirando um cochilo, conversando ou mexendo no celular. Na EAD, isso raramente fica visível, mas, com tantas tentações ao redor, é perfeitamente compreensível que seu aluno perca o foco. Não se culpe, não desista do uso integrado das TDIC ao seu plano de ensino e tente trazê-lo de volta da melhor maneira que conseguir. Tanto quanto nossos estudantes, ao ensinar, nós também estamos aprendendo.